sexta-feira, 5 de junho de 2009

Uma metade admitiu... a outra escondeu.


A entrevista com o autor do livro "sexualidade humana" e a pesquisa realizada o hospital Gaffré e Guinle apontam para algo que é óbvio, a heterossexualidade é algo questionável, um fator frágil.


Nem todo cara foi com outro para a cama, claro. Há tabús, medo, repressão de desejos. Mas praticamente todo homem tem desejo por outro em algum momento da vida, ou porque no plano das idéias ele se permite, ou porque mesmo fugindo disso como o diabo da cruz, tropeça e é pego de jeito. Mesmo que o ato não seja efetivo, está lá o desejo.


Negar isso é burrice. O conceito heterossexualidade é descabido, limita algo que é muito mais amplo: a sexualidade humana.
Por isso as saunas em clubes esportivos ficam cheias de caras que vão lá para ver outros. Fiquei de cara quando descobri isso em minha cidade. Geral ia lá para pegar. Todos casados. A maioria de cabelos brancos. Isso é fruto de uma sociedade hipócrita onde uma parte importante da sexualidade e retirada fora (se deixarmos claro).
O Eduardo Mascarenhas afirmou em um dos seus livros que não existe uma heterossexualidade inata. Que se existe é tão frágil, que diante da menor provocação ela cai por terra. E é isso o que vemos, o que sentimos e porque vou achar que sou diferente de todo mundo, que só eu sinto atração por outro cara, se ta na cara que não é bem assim.
Como já comentei por aqui sou professor em algumas academias, sou um cara bonito, corpo sarado, voz grave, tipinho marrento. E o que pego de caras corando quando flagro eles olhando meu pau (de cueca) no vestiário, não é brincadeira!

Graças aos tabús que começaram diante dos absurdos propostos pelas religiões, hoje há pessoas confusas, um machismo tonto (que é proporcional ao desejo que o cara reprime por outro homem) e uma hipocrisia cretina faz com que homens casados saiam com outros, sem se prevenir e levam dsts para seus lares.

Agora vamos deixar muito clara uma coisa aqui: DST NÃO ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA À RELAÇÃO ENTRE DUAS PESSOAS DO MESMO SEXO!

Há um moralismo idiota que faz essa associação. Vida sexual ativa sem prevenção coloca qualquer pessoa sob uma roleta russa, saia ela com alguém do sexo oposto, ou não e ponto final. O grupo de risco é aquele que não se previne, ponto final mais uma vez.
Agora veja que interessante a entrevista do doutor aí embaixo. Acham que acredito que a outra metade não pensa ou sai com homens?


Sexo perigosoEm 662 casais, mais da metade dos maridos são bissexuais enrustidos
Angela Oliveira
Foto: Carlos Magno


Motéis especializados em bacanais e diversões como trenzinho ou sorteio para saber quem fica com quem são um prato cheio para a Aids (na foto, cena do filme Calígula)
Egana-se quem pensa que os bissexuais e os adeptos do sexo grupal são poucos no Brasil. Uma pesquisa realizada pelo hospital carioca Gaffré e Guinle, centro de referência nacional em Aids, revelou que em mais da metade de 662 casais entrevistados os maridos são bissexuais. E 8% de 202 pessoas ouvidas admitem a prática de sexo coletivo. Nesse universo, homens relacionam-se com travestis alimentando a fantasia de serem penetrados por uma linda mulher. Os gays, por sua vez, idealizam ser o ativo do casal. O estudo revela também que as festas de sexo grupal são regadas a drogas e álcool e contam até com motéis que oferecem suítes de duas a três camas. O tema faz parte do livro Sexualidade humana, lançado este mês pelo cancerologista e especialista em Aids Carlos Alberto Morais de Sá. Aos 56 anos, casado, pai de três filhos e avô de dois netos, Carlos Alberto se diz chocado com o resultado da pesquisa. “Sou quadrado. Sexo coletivo é a antítese do amor”, diz. Em entrevista em seu consultório, no Gaffré, ele criticou as campanhas de prevenção à doença por nem sequer fazerem menção a esse tipo de comportamento sexual.


Afirmou ainda que os brasileiros recusam-se a assumir preferências sexuais pouco convencionais e contribuem para o aumento do índice de contaminação pelo HIV.


ISTOÉ – Por que temas tabus, como o bissexualismo e o sexo grupal, são ignorados nas campanhas de prevenção à Aids?Carlos Alberto Morais de Sá – A sociedade não assume e não discute essas questões e o bissexual não admite a sua identidade. Para a sociedade, ou se é hetero, ou homo. Talvez isso explique por que o Brasil tem um dos maiores índices de contaminação entre heterossexuais masculinos. O bissexual só assume a prática hetero e deleta a relação que tem ou teve com outro homem. Mesmo que ele seja o passivo numa transa com um travesti, fantasia que está com uma mulher. Nessa relação, o homem não é aquele que tem pênis e se comporta necessariamente como ativo. Os papéis são muito flexíveis e nada disso é levado em consideração nas campanhas educativas.


ISTOÉ – Nem os homens contaminados assumem a bissexualidade?Morais de Sá – Uma mulher infectada encontrou na agenda do marido vários nomes femininos com endereços. Descobriu que todos eram de homens que se identificavam como mulheres. O marido se contaminou insistindo que era heterossexual. A maioria dos homens afirma que adquiriu a doença com mulheres e enrustem os parceiros. De 196 mulheres entrevistadas, 54% foram infectadas por maridos bissexuais; 45,4% delas sabiam que eles se relacionavam com outras mulheres. Apenas 16,8% suspeitavam da bissexualidade. Isso é muito pouco! Além disso, 51,3% nunca haviam usado camisinha. Dos 365 homens entrevistados, 39,7% também nunca haviam feito uso de preservativo.
Foto: Carlos Magno
“O perfil do macho brasileiro mostra ambiguidade. Se gostasse de mulher, ele não batia” Carlos Alberto de Sá


ISTOÉ – Por que os bissexuais não são organizados como os homossexuais?Morais de Sá – Talvez porque os homens queiram garantir relacionamentos com parceiras femininas.


ISTOÉ – E como os travestis se comportam?Morais de Sá – Eles não gostam de assumir o lado feminino, apesar de terem seios e se vestirem como mulheres. Afirmam-se ativos e têm a fantasia de serem mulheres que penetram. Quando contaminados, negam que foram penetrados. Ninguém gosta de assumir o lado passivo.


ISTOÉ – O comportamento agressivo dos machões seria a ponta de um iceberg?Morais de Sá – O perfil do macho brasileiro, que come todas as mulheres e as enche de porrada, mostra a ambiguidade. Se gostasse de mulher, ele não batia. O comportamento sexual nem sempre corresponde à imagem do indivíduo. Muita gente se surpreende quando descobre homens com posturas sociais insuspeitadas como homossexuais. A sexualidade não é monomórfica. Nós é que impomos padrões.


ISTOÉ – Como é possível controlar a contaminação na prática do sexo em grupo?Morais de Sá – Até hoje nunca foi lançada nenhuma campanha educativa que desestimulasse o sexo em grupo. Existem motéis, como o Vila Régia, no Centro do Rio, com salas só para isso. Os mais modernos oferecem suítes com duas a três camas de casal. Ninguém é obrigatoriamente hetero ou homo e as festas costumam ser regadas a muita bebida e drogas. Há diversões do tipo trenzinho, em que um fica atrás do outro e todos vão se encaixando. E sorteio que define quem fica com quem. Num lance desses, ninguém vai usar camisinha. Os bacanais e surubas existem desde a Roma antiga, mas é difícil que alguém assuma.


ISTOÉ – O sr. se choca com esse comportamento?Morais de Sá – Sou quadrado, de formação católica. Para mim sexo e amor têm de ser seletivos. Sexo coletivo é a antítese do amor. Fico chocado, embora tenha que aceitar porque é uma realidade da sexualidade humana. Minha tarefa é tentar proteger essa prática. É preciso descobrir estratégias de intervenção.


ISTOÉ – Quem são, hoje, os maiores grupos de risco?Morais de Sá – Em maior situação de risco estão todos aqueles que fazem sexo com penetração e ejaculação sem usar preservativo. Entre 263 mulheres entrevistadas, 51,3% ignoram a camisinha. Entre 145 homens, 39,7% também não fazem uso dela.


ISTOÉ – O governo tem sido eficiente no combate à Aids?Morais de Sá – O número de novos casos diminuiu e sinto um clima de já ganhou. Por isso me preocupo. A última campanha do governo foi feita no Carnaval. Se há uma tendência à estabilização, as campanhas deveriam ser intensificadas. O investimento no tratamento é indispensável, só que a chave do sucesso são as campanhas educativas. Hoje existem cerca de 200 mil doentes registrados pelo Ministério da Saúde e acredita-se que haja entre 500 e 600 mil infectados em todo o Brasil.

2 comentários:

  1. Gente, mas uma coisa é certa: a maioria da população é heterossexual, e eu acho que desconsiderar a heterossexualidade como algo próprio do indivíduo, algo imutável, é uma atitude tão preconceituosa quanto a tentaiva dos homofóbicos de nos transformar em héteros. Eu acho que cada um deve ter o direito de assumir sua orientação sexual sem sofrer preconceito por isso, nem que as pessoas fiquem constantemente tentando fazê-lo jogar pro outro time. Gente, heterofobia também existe, pode até parecer besteira perto da homofobia, mas também é uma ideia errada. Abraço! o/

    ResponderExcluir
  2. Sim, mas a questão discutida aqui é justamente a questão da hipocrisia... e para a psicanálise não existe uma heterossexualidade legítima, no sentido de algo natural, inabalável. Se assim o fosse não havia tanta perseguição à homossexualidade, já dizia o Eduardo Mascarenhas, grande psicanalista! Não creio em uma sexualidade 100% fixa, enraízada...

    ResponderExcluir