
E desconfio mesmo! Porque depois que um amigo há anos atrás se mostrou intolerante ao ver dois caras de mãos dadas na praia e no ano seguinte era ele quem estava de mão dada com outro, eu que já não acreditava muito na heterossexualidade, passei a desacreditar ainda mais.
O que quero dizer com meu descrédito quanto à heterossexualidade é o seguinte: não acredito em sexualidade cimentada. Não acho que o desejo se comporta a um molde. E se alguém pode se dizer hetero, eu também o posso, porque certamente sentimos as mesmas coisas. Porém de formas diferentes. Meus desejos são conscientes e me relaciono bem com eles, gosto de sentí-los. Outras pessoas sentem de forma inconsciente, fica tudo na caixa preta (muito embora ela possa dar-se conta vez ou outra).
Há um jogo. Um acordo entre os homens em geral. Extrapolam seu desejo pelo outro "na sombra", sob a sombra de sua própria capacidade de análise. Mas uma vez uso o exemplo do vestiário. Lá dentro os caras assinam um acordo invisível que diz" tudo bem, eu finjo que não vi você secando meu pinto e você finge que não me viu". Isso caso o cara veja, porque normalmente os espertinhos olham quando você seca a cabeça, olha para o espelho, ou seja, não o flagre.
Eis um desejo inconsciente.
Um amigo uma vez ficou puto com essa tese e argumentou: se o cara olhasse com desejo ficaria de pau duro!
Contra argumentei com uma pergunta: Se passar 30 mulherezinhas gostosas os caras olham 30 vezes para a bunda delas, ele fica de pau duro quando faz isso?
É claro que não. Se por um lado olhar para a bunda de uma mulher na rua, onde todos percebem sua ação representa auto afirmação de sua masculinidade, o que representa então olhar dichavadamente para o pau do outro e correr o risco de ser percebido? Isso fuderia com sua "masculinidade". Ou não.
Ocorre que a transgressão é um ato que alivia a pressão que a sociedade impõe. E há um prazer em se olhar o pinto do outro se você reprime parte de sua sexualidade, é a válvula de escape.
No meu caso, que não tenho qualquer problema quanto curtir outro homem, não sinto qualquer necessidade de fitar o pau alheio em vestiários, mas pego geral olhando para o meu. Como malho todo dia, é uma cena comum com a qual me divirto, porque dou corda, finjo que estou distraído, mas to manjando o cara.
Agora, você acredita que é só em vestiário, quando o cara tá peladão que o outro olha? Veja essa pesquisa:
" uma pesquisa foi feita com homens e mulheres, com aparelhos verificando sempre onde os olhos das pessoas focavam enquanto assistiam um vídeo. O resultado surpreendeu muita gente.
A pesquisa foi feita com um homem jogando baseball, e foi detectado que uma boa parte dos homens olhou para a região do pênis do batedor, enquanto as mulheres focaram a visão perto do rosto.
Abaixo, a imagem com o resultado do computador. Foi colocada uma mancha sobre a imagem para indicar onde a visão de concentrou, e a área mais avermelhada é onde as pessoas concentraram a visão por mais tempo."
A pesquisa foi feita com um homem jogando baseball, e foi detectado que uma boa parte dos homens olhou para a região do pênis do batedor, enquanto as mulheres focaram a visão perto do rosto.
Abaixo, a imagem com o resultado do computador. Foi colocada uma mancha sobre a imagem para indicar onde a visão de concentrou, e a área mais avermelhada é onde as pessoas concentraram a visão por mais tempo."

Chega de conversa agora! hehehe fecho com a poesia do Fernando Pessoa:
Meu velho Walt, meu grande Camarada, evohé!
Pertenço à tua orgia báquica de sensações-em-liberdade,
Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até à náusea em meus sonhos,
Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me ao contrário:
De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —
Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meu corpo —
Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro de Campos, engenheiro,
Poeta sensacionista,
Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,
Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!
Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir demais...
Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,
E cheira-me a suor, a óleos, a atividade humana e mecânica.
Nos teus ver sos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural,
Ou de cabeça pra baixo, pendurado numa espécie de estabelecimento,
No teto natural da tua inspiração de tropel,
No centro do teto da tua intensidade inacessível.
Abram-me todas as portas!
Por força que hei de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui pra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!
Que nenhum filho da... se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo,
E comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito...
Pra frente!
Pertenço à tua orgia báquica de sensações-em-liberdade,
Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até à náusea em meus sonhos,
Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me ao contrário:
De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —
Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meu corpo —
Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro de Campos, engenheiro,
Poeta sensacionista,
Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,
Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!
Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir demais...
Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,
E cheira-me a suor, a óleos, a atividade humana e mecânica.
Nos teus ver sos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural,
Ou de cabeça pra baixo, pendurado numa espécie de estabelecimento,
No teto natural da tua inspiração de tropel,
No centro do teto da tua intensidade inacessível.
Abram-me todas as portas!
Por força que hei de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui pra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!
Que nenhum filho da... se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo,
E comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito...
Pra frente!
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