terça-feira, 12 de maio de 2009

Para onde os caras olham?

Como já postei por aqui, não faço questão de sair por aí dizendo que sou bi. Da mesma forma como também não sei o que as pessoas fazem entre quatro paredes, ou até mesmo dentro das quatro paredeis de sua imaginação...ali é terra que ninguém pisa. Mas como disse o Guimarães Rosa "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa".

E desconfio mesmo! Porque depois que um amigo há anos atrás se mostrou intolerante ao ver dois caras de mãos dadas na praia e no ano seguinte era ele quem estava de mão dada com outro, eu que já não acreditava muito na heterossexualidade, passei a desacreditar ainda mais.
O que quero dizer com meu descrédito quanto à heterossexualidade é o seguinte: não acredito em sexualidade cimentada. Não acho que o desejo se comporta a um molde. E se alguém pode se dizer hetero, eu também o posso, porque certamente sentimos as mesmas coisas. Porém de formas diferentes. Meus desejos são conscientes e me relaciono bem com eles, gosto de sentí-los. Outras pessoas sentem de forma inconsciente, fica tudo na caixa preta (muito embora ela possa dar-se conta vez ou outra).

Há um jogo. Um acordo entre os homens em geral. Extrapolam seu desejo pelo outro "na sombra", sob a sombra de sua própria capacidade de análise. Mas uma vez uso o exemplo do vestiário. Lá dentro os caras assinam um acordo invisível que diz" tudo bem, eu finjo que não vi você secando meu pinto e você finge que não me viu". Isso caso o cara veja, porque normalmente os espertinhos olham quando você seca a cabeça, olha para o espelho, ou seja, não o flagre.

Eis um desejo inconsciente.

Um amigo uma vez ficou puto com essa tese e argumentou: se o cara olhasse com desejo ficaria de pau duro!

Contra argumentei com uma pergunta: Se passar 30 mulherezinhas gostosas os caras olham 30 vezes para a bunda delas, ele fica de pau duro quando faz isso?

É claro que não. Se por um lado olhar para a bunda de uma mulher na rua, onde todos percebem sua ação representa auto afirmação de sua masculinidade, o que representa então olhar dichavadamente para o pau do outro e correr o risco de ser percebido? Isso fuderia com sua "masculinidade". Ou não.

Ocorre que a transgressão é um ato que alivia a pressão que a sociedade impõe. E há um prazer em se olhar o pinto do outro se você reprime parte de sua sexualidade, é a válvula de escape.
No meu caso, que não tenho qualquer problema quanto curtir outro homem, não sinto qualquer necessidade de fitar o pau alheio em vestiários, mas pego geral olhando para o meu. Como malho todo dia, é uma cena comum com a qual me divirto, porque dou corda, finjo que estou distraído, mas to manjando o cara.

Agora, você acredita que é só em vestiário, quando o cara tá peladão que o outro olha? Veja essa pesquisa:

" uma pesquisa foi feita com homens e mulheres, com aparelhos verificando sempre onde os olhos das pessoas focavam enquanto assistiam um vídeo. O resultado surpreendeu muita gente.
A pesquisa foi feita com um homem jogando baseball, e foi detectado que uma boa parte dos homens olhou para a região do pênis do batedor, enquanto as mulheres focaram a visão perto do rosto.
Abaixo, a imagem com o resultado do computador. Foi colocada uma mancha sobre a imagem para indicar onde a visão de concentrou, e a área mais avermelhada é onde as pessoas concentraram a visão por mais tempo."

Chega de conversa agora! hehehe fecho com a poesia do Fernando Pessoa:

Meu velho Walt, meu grande Camarada, evohé!
Pertenço à tua orgia báquica de sensações-em-liberdade,
Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até à náusea em meus sonhos,
Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me ao contrário:
De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —
Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meu corpo —
Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro de Campos, engenheiro,
Poeta sensacionista,
Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,
Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!
Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir demais...
Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,
E cheira-me a suor, a óleos, a atividade humana e mecânica.
Nos teus ver sos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural,
Ou de cabeça pra baixo, pendurado numa espécie de estabelecimento,
No teto natural da tua inspiração de tropel,
No centro do teto da tua intensidade inacessível.
Abram-me todas as portas!
Por força que hei de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui pra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!
Que nenhum filho da... se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo,
E comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito...
Pra frente!

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