
Vivemos em um meio cultural que não convive facilmente com as diferenças.A bissexualidade, é uma das categorias que não estão enquadradas nos modelos consideradas "normais" das culturas em geral.O indivíduo pertencente a este grupo tem a capacidade de envolver-se emocional e sexualmente com ambos os sexos, podendo também procriar, deixando pesquisadores "malucos", pois nas pesquisas comparativas sempre se tentou encontrar diferenças entre homos e heteros. Uma das vias percorridas é a da interpretação e conceituação pela formação cromossômica, que nunca encontraram diferença entre homos e heteros.Tentou-se também o estabelecimento de diferenças pelo tamanho do hipotálamo (estrutura do cérebro que comanda as sensações de fome, sede, emoções e apetite sexual) observando que o do homossexual masculino era menor quando comparado ao do heterossexual masculino, dando-se com o feminino o inverso. A este respeito M. Garber em seu livro "Vice-versa..." indaga sobre de que tamanho seria o hipotálamo do bissexual, seria comparado com o de qual sexo, seria maior ou menor, ou teria um tamanho ideal, uma terceira medida?O bissexual intriga. Isso fica patente ao constatarmos que desde de que nascemos nos é ensinado que existem comportamentos apropriados para meninos e comportamentos apropriados para meninas. Às vezes, de uma forma implícita nos brinquedos, cores e tipos de roupas, outras explícitas nas palavras de ordem, como "feche as pernas para sentar, menina!", "homem não chora!" e etc. Dessa forma vai-se moldando nossa identidade de gênero. É importante frisar que o fato de termos uma identidade sexual não quer dizer que a identidade de gênero corresponda a esta. A identidade sexual é diferente de identidade de gênero, posto que a primeira é a consciência que se tem do sexo biológico e a segunda é o sentimento de pertencer a um determinado sexo, e uma é independente da outra. Para ficar mais claro, temos o exemplo do transexual, que tem corpo e órgãos genitais de um sexo, e consciência de que é um corpo de homem ou de mulher (identidade sexual), mas o seu sentimento é o de pertencer ao outro sexo (identidade de gênero), portanto não havendo correspondência entre ambas.No caso do bissexual sua identidade de gênero corresponde à sua identidade sexual. O que vai diferenciá-lo do heterossexual e do homossexual é que sua orientação sexual - a quem seu desejo se dirige, se orienta - pode ser para ambos os sexos, não necessariamente com a mesma intensidade.Em razão desta peculiaridade sofre preconceito por todos os lados, criando-se "mitos" e "tabus" em torno de seu comportamento, como por exemplo: o de um necessário relacionamento simultâneo com homens e mulheres ("suruba, bacanal"). Tal situação pode até ocorrer, mas não é a definição da conduta bissexual. Alega-se que os bissexuais são homossexuais que não se assumem como tais ou heterossexuais com problemas na constituição da personalidade, de adaptação social, que fixaram-se em determinada fase do seu desenvolvimento psicossexual ou de algo parecido no jargão psicológico. Diz-se também que são pessoas indecisas que querem brincar com o sentimento dos outros, insatisfeitos, querem tudo ao mesmo tempo.É preciso atentar para o fato de que a atração entre as pessoas é algo que vai além da sexualidade, pois todos nós temos a capacidade de nos sentirmos atraídos por homens e mulheres. No início de nossa formação somos todos bissexuais, segundo o pai da psicanálise.O bissexual muitas vezes vive clandestinamente, pois, são de certa forma marginalizados e excluídos tanto pelos homossexuais como pelos heterossexuais, o que faz com que os bissexuais não apareçam e sejam desconsiderados enquanto orientação. Muitos assumem uma posição velada, heterossexual ou homossexual, nos dois casos reprimindo seus desejos, vivendo com uma máscara social pela necessidade de serem aceitos, gerando um prejuízo no desenvolvimento humano.Texo e colaboração - Psicóloga e sexóloga Rosemary Aparecida Villela de Freitas
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